quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quem paga adiantado... é mal servido!

Segundo vários órgãos de comunicação social os responsáveis pela delegação portuguesa ao Campeonato do Mundo iniciam hoje o processo de avaliação à campanha da seleção nacional no Brasil. A informação veiculada indica que o objetivo é identificar o que correu mal com vista à preparação do Europeu de 2016.

Parece-me bem! A avaliação é fundamental. E se servir para evitar erros semelhantes no futuro, ainda melhor. Mas há uma questão que emerge de imediato: o que acontece se as conclusões deste processo de avaliação apontarem para erros graves ou manifestas incompetências por parte do selecionador nacional?

Desde que se confirmou a eliminação de Portugal o próprio Paulo Bento tem-se assumido, perante o país, como único responsável de tudo o que aconteceu. Desde a (pré)convocatória dos jogadores, à escolha do local do estágio, à digressão por terras do Tio Sam, à condição física dos jogadores, às opções táticas... Também tem sido assumido (como se tal fosse necessário) que os objetivos mínimos não foram cumpridos. Assim sendo a conclusão só poderá ser uma: culpa do Paulo Bento! Caso se confirme ser esta a conclusão do processo de avaliação, que consequências haverá tendo em consideração que o Paulo Bento já disse que não se demite e que a Federação está amarrada a um contrato renovado há cerca de 2 meses?

E é aqui que bate o ponto! Que necessidade tão premente levou a Federação a propor (ou a ceder) uma renovação do contrato nas vésperas da fase final do mundial? O que os terá conduzido a recompensar antecipadamente o timoneiro da seleção antes do trabalho ser concluído? O povo diz, na sua imensa sabedoria, que quem paga adiantado é geralmente mal servido. Os brasileiros adaptaram o provérbio aplicando-lhe um teor mais duro. Dizem eles que quem paga adiantado merece ser enganado.

Há alguns anos que tenho uma posição de princípio: para mim um selecionador nacional tem prazo de validade: 4 anos no máximo, que corresponderiam a duas campanhas: um mundial e um europeu. Com contratos de 2 anos e direito a uma renovação caso a avaliação sobre os resultados alcançados na 1ª campanha se revele positiva. Admito que haja circunstâncias que aconselhem mais do que uma renovação (como aconteceu com Scolari, com resultado sofrível), mas não entendo a lógica de decidir renovações antes de serem conhecidos os resultados e ser avaliado o cumprimento dos objetivos fixados.

Não existindo lógica aparente abre-se caminho para lógicas encapotadas. Talvez não seja descabido considerar que a renovação antecipada do contrato com o Paulo Bento tenha servido de contrapartida para que este assumisse integralmente as responsabilidades por todas as decisões, salvaguardando incompetências e amadorismos da estrutura federativa. Que tenha servido para lhe comprar o silêncio e uma lealdade extrema face a interesses mais ou menos confessáveis. Que tenha servido para o colocar numa posição em que já esteve no passado, ao serviço do Sporting, a oferecer sozinho o corpo às balas. Sendo ele o único responsável por todas as decisões associadas à preparação, estágio e competição da seleção não se percebe a utilidade da presença de pessoas como o Humberto Coelho ou o João Vieira Pinto.

Salva-se o chef Hélio Loureiro. Esse, pelo menos, já veio a público confirmar que não necessitava de orientação do Paulo Bento na confeção das suas ementas. A decisão sobre o jantar de "Bacalhau com Todos" ou "Mão de Vaca com Grão" era da sua exclusiva responsabilidade e competência. Mas por esse lado não consta que tenha havido qualquer reclamação.

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