domingo, 21 de fevereiro de 2016

11 contra 11 e no final...ganha a Alemanha

Dois confrontos portugueses com equipas alemãs, duas derrotas contundentes e duas eliminatórias extremamente complicadas para Porto e Sporting. Embora por razões diferentes, a diferença de qualidade entre Leverkusen/Dortmund e Sporting/Porto fez-se sentir. Mas nesta "primeira parte" das eliminatórias, vou optar por me focar nos "dragões".

O Porto entrou em campo na Alemanha claramente limitado, sobretudo no sector defensivo. Peseiro viu-se obrigado a puxar Layún para o meio (e o mexicano, que parece não saber jogar mal, correspondeu), jogando ao lado de Indi, e colocou Varela como lateral direito. No meio-campo, Rúben Neves no lugar do habitual titular Danilo (de fora por castigo) e Sérgio Oliveira ao lado de Herrera. Na frente, a surpresa foi Marega, na ala direita.


Mas desde cedo se percebeu que a principal diferença não seria individual, mas sim colectiva. Este Dortmund de Tuchel joga muito futebol, e é uma equipa muito bem organizada e confortável com o seu estilo de jogo. Raramente vemos os seus jogadores tomarem decisões sem nexo, e nota-se uma complexidade ao nível da dinâmica, quer defensiva quer ofensiva, muito interessante. Prova disso foi a forma como, sem grande esforço, foi forçando o Porto a jogar longo logo na 1ª fase de construção, acção que acabava sempre por ser inócua pois, mesmo quando Aboubakar ou Brahimi (especialmente o argelino, dono de uma capacidade técnica fenomenal, mas que nem assim foi capaz de ter grande sucesso) conseguiam dominar a bola, o Dortmund encontrava-se sempre em superioridade numérica naquela zona. Digo "sem grande esforço", pois foi algo que não se deveu a uma especial intensidade ou agressividade sobre o portador da bola por parte dos alemães, mas sim a um posicionamento exemplar em praticamente todos os momentos sem bola.

E mesmo com bola. Marega, por exemplo, passou o jogo todo "colado" a Varela, no seu meio-campo defensivo, para poder acompanhar Schmelzer, que actuava quase como extremo-esquerdo quando o Dortmund se encontrava em fases de construção (ficando Piszczek sempre mais recuado, junto aos centrais, com Weigl sempre como linha de passe segura no corredor central. Uma espécie de losango na saída de bola, muito interessante em termos tácticos). Esse comportamento reaccionário de Marega, por sua vez, permitiu várias vezes a Hummels (que, no capítulo da construção, é para mim o melhor central do mundo na actualidade) progredir no terreno com bola, criando constantemente um desequilíbrio que o Porto nunca foi capaz de contrariar. Basta ver que o central alemão terminou o jogo com mais passes que o meio-campo do Porto...todo junto. Ainda no capítulo da organização ofensiva, impressionante como Kagawa recebeu várias bolas entre linhas e sem pressão no corredor central, contra um trio de médios que poucas vezes saíram desse mesmo corredor no momento defensivo. Inadmissível a este nível.


Vi surgir, a espaços, o argumento de que o Porto não fez mais no jogo por manifesta falta de vontade para assumir riscos, para subir linhas e para envolver mais jogadores no momento ofensivo. Embora esse argumento tenha algum fundamento, há que realçar também a forma como o Dortmund foi impedindo o Porto de o fazer, e como manietou a equipa portuguesa durante vários períodos do jogo. A vitória alemã nunca pareceu estar posta em causa, e fiquei até com a ideia de que, tivesse o Porto criado outras dificuldades ao Dortmund, e estes teriam capacidade para responder com uma exibição de um nível qualitativo superior àquele que apresentaram na quinta-feira. No jogo do Dragão, parece-me inegável que será necessário um Porto com outra atitude perante o jogo, um Porto que suba bastante a bitola qualitativa, de forma a poder ter hipóteses reais de discutir esta eliminatória.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Lições da Catalunha

Crescer a jogar



Fascinante a metamorfose de Neymar desde os seus tempos no futebol sul-americano para os dias de hoje. Se é óbvio que o contexto competitivo que encontrou na Europa o forçou a se adaptar, menos óbvia é a maneira como a influência que a filosofia e os colegas em Barcelona lhe proporcionaram. É agora um jogador muito mais eficaz do ponto de vista daquilo que pode oferecer de diferente ao jogo: imprevisibilidade, que beneficie o jogo coletivo. O brasileiro continua com a mesma qualidade técnica mas consegue agora fazê-lo para beneficiar da melhor forma a equipa. Utiliza o drible como arma, como chamariz, não necessariamente para progredir ou para o benefício da notoriedade. Atrai, atrai, atrai... e liberta. Quando assim se exige. Mais jogadores à sua volta implica menos jogadores em redor dos seus colegas e mais espaços abertos para penetrar que não os que pisa.






Continua a haver diversão. O atrevimento para tentar algo diferente em cada jogada. Mesmo que não seja com um objetivo imediato, porque nem tudo tem que o ter. Os caminhos para o golo, muitas vezes bem fechados por uma densidade adversária assinalável, precisam de ser trabalhados com objetivos a "longo-prazo". Atrair para enganar. Uma, duas, três vezes. As que forem preciso para que os erros do outro lado surjam para aí sim, ser incisivo.

Referir também, porque assim o merece, a evolução de Suarez. Noutro patamar de qualidade e com outros defeitos mas agora muito mais consciente das suas limitações. Um registo de transformação similar ao brasileiro, onde se percebe que agora compreende melhor o que a equipa necessita. Não extraordinariamente mas bem melhor do que há 2 anos atrás, por exemplo. Mais uma vez, a convivência com colegas que priorizam outras coisas que não o sucesso imediato e, claro, a humildade de o aceitar. De apaludir.

O penalty de Messi


E a criatividade nos momentos que menos se espera. De Messi para o Mundo:


Quantos pensariam sequer em fazer algo parecido? Poucos. Mas deviam ser muitos mais. Surpreendeu por isso mesmo e ainda bem que o fez. Nada é tão eficaz como concretizar algo que ninguém espera. Nota também para o chocolate de Messi na jogada que provocou o penalty. Que delícia.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Performance: a guide for dummies

Dia após dia, semana após semana, continuam a escrever-se asneiras sobre futebol que ajudam a consolidar uma mentalidade continuamente simplista. Como, por exemplo:

"Mas a ‘France Football’ vai mais longe e compara o rendimento de Slimani ao de Lionel Messi. «Com oito golos em seis jogos, em janeiro, o desempenho do argelino equipara-se ao de Messi, que marcou os mesmos golos em outros tantos jogos." - Notícia da France Football veiculada pela ABola em Portugal.

Comparações à parte, não interessa para aqui discutir as estatísticas individuais de cada um dos nomes citados, ou sequer os seus rendimentos nos respetivos clubes. Seja Slimani, Messi, fosse Ronaldo ou Talisca, a ideia mantinha-se a mesma.  O cerne da notícia é uma falsa questão, que não passa de um chamariz para atrair os mais levianos. Mais do que isso, é a noção que existe de rendimento e os dois pesos e dois medidas constantemente aplicados para situações deste género que se entranham e realmente irritam.

Ninguém é parvo o suficiente para afirmar que o futebol se resume a um ou dois momentos, aos números de golos ou à quantidade de assistências.  É uma ideia já amplamente aceite que não oferece qualquer resistência... quando perguntado diretamente, claro está. Mas é curioso que tão peremtórias afirmações se esfumacem no momento em que a discussão se eleva para patamares mais específicos ou quando não existe outro contra-argumento que ajude. Ou, simplesmente, para quantificar e qualificar o tão aclamado rendimento. Pergunte diretamente a alguém se acha que o número de golos define um bom avançado. Certamente que lhe dirão que não. Agora espere e com toda a certeza, mais cedo ou mais tarde, a mesma pessoa lhe irá argumentar o rendimento desse mesmo avançado com o número de golos que este tem ou não tem. É daquelas coisas que quando pensamos que já nos escapamos, elas voltam para nos perseguir, mais fortes e resistentes que nunca.

Faz-nos pensar se realmente existe uma compreensão da complexidade do jogo e o que isso acarreta para diferentes momentos e jogadores. Mais: se existe, realmente, uma coerência de opinião nesse sentido ou se simplesmente se usam os argumentos que estiverem mais à mão. Puxar para um lado quando interessa mas para o outro quando já não interessa. No meio, sofre quem quiser falar de futebol e deixar de lado patetices sem sentido; porque é muito mais cativante e significante falar sobre filosofias, sobre abordagens aos diferentes problemas que surgem, sobre um futebol pensado e estruturado. Se quero sair a jogar de trás, como me vou proteger em caso de perda? Que comportamentos promovo que estimulem nesse sentido? Se já tenho alguém a alongar a linha defensiva adversária, como vou povoar o espaço à frente dela? Procuro rapidamente a profundidade ou aguardo, circulo e abro espaços no bloco? Que indicações dou à minha equipa quando pressiono? Para onde oriento os apoios e quando decido o timing de pressão e consequente zona de pressão? E a distância a que quero a minha última linha dessa pressão? Os escudos dos números redutores escondem uma natureza multifacetada que nem todos querem ou se dão ao trabalho de falar.

De que interessa comparar o número de golos marcados por cada jogador, tendo em conta os seus diferentes patamares de qualidade, as suas diferentes características, os seus diferentes clubes e contextos competitivos, os diferentes modelos de jogo onde se inserem e até os diferentes níveis de dificuldade em adversários que encontraram neste período? Que conclusão relevante é possível retirar de uma avaliação tão simplista? Nenhuma. Dá para encher choriços, enganar tolos e ajudar, mesmo que inconscientemente, a perpetuar conceitos que acabam por moldar opiniões. Se calhar escrevendo um livro, todo bonito e com um aspeto empresarial, ajude a combater estas observações falaciosas. E de preferência em inglês, para lhe dar aquele toque international.